quarta-feira, abril 09, 2008


No filme "O Quarto Poder", de Costa Gravas, fica evidente a interferência que os veículos de comunicação em massa tem sobre a opinião pública. Da mesma forma, se analisarmos criticamente, podemos observar os fatores psicológicos, sociológicos e históricos influenciando este processo de formação e desenvolvimento da opinião pública.


Sam, o vigiliante demitido, tomado pelo desespero e necessidade de ser ouvido, mantém como refém sua ex-chefe e crianças que visitavam o local, sob a mira de uma arma. Alí também está Max, o jornalista, que se mostra hábil em manipular, controlar comportamento e assim "formar opinião".
Diante de um tiro acidental, a estória se desenrola e o jornalista manipula a situação para tornar a "opinião pública" aliada de Sam.

Nesta empreitada, os fatores sociológicos são utilizados para influenciar o fenômeno. Um exemplo disto se dá quando Sam usa a TV para se mostrar à população como o pai de família, trabalhador que se vê perdido sem emprego e com suas responsabilidades em jogo. De forma objetiva - como são os fatores sociológicos - busca-se atingir grupos ou classes que se encontram em situação semelhante (desempregados). O nível de informação/ escolaridade também é relevante neste processo. A formação de opinião em um grupo com nenhum senso crítico, ou pelo menos não suficiente para distinguir entre a verdade ou mentira, faz com que opiniões formadas sejam lançadas à massa e tornem-se próprias a ela.

Os fatores históricos também podem ser observados, embora de forma mais subjetiva. O fato em si (tomada do museu), é um acontecimento histórico, que funciona como informação e a percepção deste fato pelos indivíduos acabam por mobilizar a opinião. Dada a estas circunstâncias, explica-se as mudanças repentinas no foco da opinião pública. Vejamos que a situação mostrada no início do filme, onde acredita-se haver fraude por executivo/político (não lembro bem), é totalmente esquecida quando o foco se vira para o acontecimento da tomada do museu por Sam.

Por fim, é preciso destacar os fatores psicológicos, que embora subjetivos, ficam evidentes e talvez sejam o que melhor expliquem a trama. Naquela situação, Max (o jornalista) externa que é preciso buscar a opinião pública como aliada e assim, inicia-se um processo de influência que se se dá através das emoções, dos estereótipos e exteriorização.
Sam se mostra como inocente e arrependido, pai de duas crianças que em um ato de loucura fez algo sem nenhuma intenção de ferir ao próximo. Esta é uma tentativa de expressar suas necessidades e aspectos afetivos (exteriorização). Com isto, busca-se encontrar um mecanismo de identificação com os indivíduos e uma interpretação psicológica que garanta que estes indivíduos assimilem características de Sam e se mostrem favoráveis a ele. No filme, podemos perceber que esta apresentação de Sam lhe rende muitos "adeptos" e uma defesa explícita de sua condição criminosa. O estereótipo surge quando o cidadão comenta que está na América e alí "podemos enloquecer". Afirmação de certa forma irracional e possivelmente resultado de fatores afetivos. Obviamente, não se pode dispensar a condição de rejeição em alguns indivíduos - que é a identificação negativa alcançada - a qual é demonstrada em comentários do tipo: "engrandecer o criminoso", "esquecer o delito", etc.

A emoção contamina/ manipula a opinião pública em diversos momentos do filme. Neste aspecto, podemos destacar cenas como a liberação de duas crianças, sendo uma branca e uma negra, visando sensibilizar qualquer possibilidade de reação racista, ou o uso de depoimentos de familiares e amigos que mostram o homem sensível, amoroso, religioso capaz de projetar a empatia nos telespectadores.

O filme é uma bela oportunidade de analisar a "Opinião Pública" e os fatores que influenciam sua formação e desenvolvimento.

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